A obra é organizada por Edna Martins e Renata Marcelino Cândido e reúne artigos sobre conceitos e práticas de inclusão no ambiente escolar
Resultado de uma série de trabalhos oriundos do curso de aperfeiçoamento A gestão do desenvolvimento inclusivo na escola, o livro Na trilha da inclusão: deficiência, diferença e desigualdade na escola reúne diversos artigos sobre conceitos e práticas de inclusão no ambiente escolar.
Leia abaixo a apresentação do livro. O download do livro completo pode ser feito aqui.
A presente publicação divulga com grande satisfação textos resultantes do trabalho de idealização e concretização do “Curso de Aperfeiçoamento A gestão do desenvolvimento inclusivo na escola”. O desafio teve início na escrita do projeto do curso, que almejou tratar de forma abrangente o conceito de inclusão no contexto escolar, não o restringindo somente ao campo da inclusão de pessoas com deficiência, mas abarcando discussões sobre educação de jovens e adultos, educação e relações étnico-raciais, educação ambiental e direitos humanos. O desafio esteve também em realizar a formação continuada de dezenas de professores da rede municipal de São Paulo e Guarulhos em um tema delicado, a ser explorado em todas as suas nuances em uma modalidade educacional que requer novas estratégias de ensino e aprendizagem, que é a Educação à Distância. Os textos ora orquestrados nesta publicação objetivam compor os resultados do desenvolvimento do curso, além de fomentar e disseminar modos de discutir e compreender a educação inclusiva ainda tão necessária no contexto educacional.
No capítulo, “Na trilha da inclusão: gerindo caminhos, gerindo formação”, as autoras Edna Martins e Renata Marcílio Cândido, apresentam as vicissitudes dos processos de idealização e concretização do curso, destacando desde os aspectos legais e aportes teóricos que fundamentaram o projeto pedagógico, os participantes e a escolha da equipe formadora. Apresentam também os módulos das disciplinas que compuseram o Ambiente Virtual de Aprendizagem, as dificuldades encontrada no caminho e os resultados finais observados nas apresentações dos trabalhos de conclusão de curso, que tiveram como proposta inovadora a criação de um vídeo que abordasse de forma criativa a questão da inclusão e os seus desafios nos contextos escolares atuais.
Em “O preconceito e os impasses da educação inclusiva”, Marian Ávila de Lima Dias aborda em um texto organizado em três partes do tema da educação inclusiva a partir de um de seus principais obstáculos: a questão do preconceito. Em um primeiro momento discute o conceito de preconceito em seus aspectos individuais e sociais e as consequências de tal atitude na formação dos indivíduos e na consolidação dos estereótipos. Em um segundo momento busca delinear o cenário atual da educação escolar, suas relações com a violência escolar e sua centralidade na reificação de estereótipos e nas implicações da educação escolar quando ela é voltada para a competição individual. A autora encerra seu texto trazendo uma reflexão sobre o potencial emancipatório da educação inclusiva, uma vez que esta proposta resgata na educação o sentido de formação de um indivíduo mais consciente das contradições presentes na estrutura da sociedade atual e capaz de contrapor-se à sua violência.
Já o texto de Érica Aparecida Garrutti-Lourenço que leva o título “Bilinguismo para surdos e inclusão escolar: a busca por um caminhar articulado” discute condições para o bilinguismo e a inclusão de alunos surdos na escola. Inicialmente a autora contextualiza os processos de inclusão como movimento que busca resgatar o direito à Educação para todos, apresentando e discutindo a legislação vigente. O texto retoma o conceito de bilinguismo, delineando proposições bilíngues e inclusivas nas escolas, assinalando a importância do respeito às experiências psicossociais e linguísticas da criança surda, atribuindo centralidade à Libras. A autora apresenta ainda uma experiência de projeto de extensão de contação de histórias para crianças surdas organizada com estudantes de Pedagogia, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Finaliza o capítulo dando especial destaque à inclusão, e ao favorecimento de condições para que alunos surdos compartilhem dos mesmos espaços de aprendizagem que os alunos ouvintes.
O artigo de Maria de Fátima Carvalho: “Contribuições da psicologia histórico-cultural à inclusão de crianças com deficiência na educação infantil” discute aspectos da inclusão escolar de crianças com deficiência na Educação Infantil com objetivo de ressaltar contribuições da psicologia histórico-cultural, mais especificamente a tese de desenvolvimento cultural da criança, à reflexão sobre o tema. A discussão tem como elemento desencadeador a apresentação de dados de pesquisa desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência – Unifesp relativos à inclusão escolar de uma criança com transtornos do espectro autista matriculada em escola pública de educação infantil em município paulista. Relaciona os campos da Educação Infantil e Educação Especial e os seus limites e possibilidades face à perspectiva de educação para todos; contextualiza a produção acadêmica sobre a inclusão na educação Infantil e, apresenta e discute os dados, ressaltando na situação analisada o que se evidencia do conjunto da produção acadêmica sobre o tema e as contribuições de Vigotski à discussão de aspectos que se colocam como desafios à educação infantil de crianças com deficiência.
Carlos Vinicius Gomes Melo, Marcio Antonio Tralci Filho e Alessandro de Oliveira dos Santos, no texto intitulado Caminhada dos privilégios: Uma intervenção psicossocial para trabalhar as opressões de classe, gênero e raça-etnia apresentam e discutem uma intervenção psicossocial, já realizada em outros países, principalmente nos EUA, e que vem sendo aplicada em diferentes espaços de ensino, destinada a explorar as vantagens e desvantagens conferidas histórica e socialmente por marcadores sociais, tais como classe, raça-etnia, gênero, orientação sexual e religiosidade. Inicialmente, os autores descrevem a intervenção intitulada “Caminhada dos Privilégios”, com o detalhamento do material e instruções necessárias para sua execução. Em seguida, trazem o relato de um sujeito participante desta intervenção e os efeitos sobre ele, como exemplo elucidativo. Ao final, elaboram considerações acerca do potencial dessa ação educativa para promover a reflexividade e a conscientização em espaços educativos sobre as opressões oriundas de hierarquias sociais persistentes.
O capítulo A pesquisa étnico-racial em educação no Brasil: percursos pelos trabalhos do GT-21 da Anped de Julvan Moreira de Oliveira, traz um trabalho do tipo estado da arte dos trabalhos aceitos no Grupo de Trabalho Educação e Relações Étnico-raciais da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (GT-21 da ANPED), iniciado em 2002 como Grupo de Estudos em Relações Raciais/Étnicas e Educação, ao longo dos seus quase 15 anos de existência. Ao todo foram 181 trabalhos analisados, da 27ª Reunião que ocorreu em 2004 à 37ª Reunião Nacional ocorrida em 2015, categorizados em três divisões: a primeira, dos temas que apareceram do início até a atualidade nas reuniões anuais do GT 21 da ANPED, denominados de temas patentes, pois são bem recorrentes. Em seguida, os temas latentes, pois são bem ocultos, raríssimos ao longo de todas as reuniões. Por fim, a terceira categoria relativa aos temas que mais emergentes, pois não são latentes nem recorrentes, contudo ao longo dos anos aparecem esporadicamente.
Mariângela Graciano e Sérgio Haddad em seu texto A Educação de Jovens e adultos na escola – entre a inclusão e a transformação discutem a legislação fundamental que embasa as práticas e as reflexões sobre a educação de jovens e adultos, especialmente a Constituição Federal de 1988, regulamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) e disposta no Parecer nº 11/ 2000 (CEB/CNE). No texto aparece a proposição da escola ou educação inclusiva, destacando-se dois aspectos principais: o primeiro relacionado ao público da EJA, considerando pessoas com e sem deficiência, baixa ou nenhuma escolaridade, com mais de 15 anos e, o segundo, à qualidade social da oferta educativa promovida pelos sistemas oficiais de ensino. Ao considerarem o processo de institucionalização da educação de jovens e adultos, os autores concluem que a EJA tem sido “incluída” na escola, buscando adaptar-se na forma e em conteúdos pré–existentes, não se constituindo na prática em uma educação de natureza libertadora capaz de ampliar os horizontes dos grupos excluídos da população.
O texto de Denise de La Corte Bacci e Rosana Louro Ferreira Silva com o título: “Educação ambiental na perspectiva da inclusão social” que defendem a ideia que a educação ambiental deve ser compreendida como um instrumento de inclusão social em que a diversidade assume papel fundamental, principalmente no momento atual de políticas de diferentes países que parecem buscar uma homogeneização dos seres humanos. O texto apresenta e discute alguns aportes legais e políticos sobre a educação ambiental e inclusão social a partir de uma síntese teórica, além de ressaltar elementos para se pensar em sua efetiva implementação. As autoras finalizam o capítulo apresentando algumas iniciativas nacionais que contemplam a temática da educação ambiental na perspectiva da inclusão social e da inclusão de pessoas com deficiência
Para finalizar apresentamos o capítulo: “A Educação em Direitos Humanos aplicada a pessoas com transtorno psiquiátrico: a Experiência do Memorial da Resistência de São Paulo” de Alessandra Santiago da Silva; Daniel Augusto Bertho Gonzales e Hannah Carolina Silva Ferreira traz um relato de experiência com contação de histórias que ocorre no Memorial da Resistência de São Paulo. O texto tem como objetivo compartilhar as experiências desenvolvidas pelo Programa de Ação Educativa com a implementação do projeto de acessibilidade “Memorial ParaTodos”, que visa promover diálogos entre o discurso expositivo e diferentes públicos, de forma a contribuir com a reflexão crítica acerca da História contemporânea do país e com a valorização dos princípios democráticos, do exercício da cidadania, e da conscientização e respeito aos Direitos Humanos. Os autores discutem a educação não formal em direitos humanos, além de apresentar questões sobre a acessibilidade em espaços culturais. Finalizam com a apresentação da experiência a partir da contação de histórias de um preso político, defendendo ações multiplicadoras capazes de despertar a importância do trabalho com acessibilidade e Direitos Humanos em todas as instituições, principalmente nos ambientes destinados à educação.