Obra organizada por Betania Libanio Dantas de Araujo e Érica Aparecida Garrutti de Lourenço reúne artigos sobre processos e práticas de aprendizado e ensino de artes na Educação Infantil
Inspirado no curso de Aperfeiçoamento Educação Infantil, Infâncias e Arte, idealizado por professores da Unifesp, o livro Clareira luminosa: arte, curiosidade e imaginação na infância é composto por seis artigos sobre as experiências das práticas e processos na aprendizagem e no ensino de artes na Educação Infantil.
Leia abaixo a apresentação do livro escrita pelas organizadoras. O download do livro completo pode ser feito aqui.
“O sujeito só pode ultrapassar o dualismo da interioridade e da exterioridade quando percebe a unidade de toda a sua vida”
(BENJAMIN, 1985, p. 212)
Este livro é concebido, em sua inspiração, a partir de um grande sonho que, alimentado por vários meses, no ano de 2014, pôde sair do papel em 2015, o curso de Aperfeiçoamento Educação Infantil, Infâncias e Arte (EIIA), semipresencial, idealizado por docentes da Unifesp numa parceria entre Secretaria de Educação Básica (Ministério da Educação) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para professores que atuavam na Educação Infantil nas redes municipais de São Paulo e Guarulhos.
Referimo-nos à experiência do curso como um sonho porque fora a base de todo o seu planejamento o que nos ocorria como central na atuação do professor com crianças pequenas em Artes: o ser e se descobrir nas artes, o refletir e o fazer pedagógico e a centralidade na criança – afinal infância, como nos diz Marina Célia Moraes Dias (2003, p. 231), “é quando tudo começa, quando a vida fica grávida do mundo”, projeto abraçado fortemente por toda a equipe do curso. Já em sua concepção, o EIIA tomou forma pelas muitas mãos que se entrelaçavam em tal busca: professores formadores e pesquisadores, tutoras, supervisor, coordenadoras, secretárias, designers e professores cursistas. Cada um deixou um pouco de Si e do Outro também levou.
Nestas palavras de introdução, podemos dizer que, valendo-nos das palavras de Larrosa, no EIIA todos(as) passamos pelo par na educação da experiência, como algo que nos alcançou, nos aconteceu, nos significou e nos transformou. Permitiu que nos colocássemos em estado de devaneio, de descoberta de si no universo das artes, de escuta e observação, de estudo, pesquisa e discussão acerca das práticas pedagógicas, de compartilhamento e que nos entregássemos com motivação e entusiasmo na ação de fazer experiência nas artes com crianças pequenas.
Os principais pressupostos que nortearam o planejamento e todo o desenvolvimento do curso permearam a cultura da(s) infância(s) e da arte na educação do olhar sensível. A educação da imaginação, as vivências imaginativas das infâncias e a experiência cultural intencionavam o despertar dos sentidos.
Para aguçar ainda mais um professor-leitor ávido por conhecer particularidades da mediação em artes com as crianças da Educação Infantil, articulamos os diversos espaços de saberes da educação em arte para a apreciação artística.
Foi a partir desta singular experiência que passamos a alimentar o desejo desta publicação, afinal algumas descobertas – dizemos algumas somente porque a extensão do que apresentamos neste livro é minuta em vista do vivenciado – precisavam ser compartilhadas. Assim, vislumbramos este livro como o término de uma caminhada, do EIIA, no qual tantas vozes ecoam, e um início de diálogo para a questão que propomos: quais caminhos os professores da Educação Infantil podem trilhar rumo ao favorecimento da experiência em artes com os pequenos?
Para começo de conversa, Betania Libanio Dantas de Araujo e Érica Aparecida Garrutti de Lourenço, fazem uma contextualização do que inspirou a criação deste livro, o EIIA. O curso é apresentado desde a sua concepção, planejamento do ambiente virtual de aprendizagem, configuração do trabalho da equipe, princípios balizares do curso, produção do material didático às falas avaliativas dos cursistas após o percurso de realização do EIIA. Um percurso de muitas aprendizagens!
No capítulo 2,Betania Libanio Dantas de Araujo, discorre sobre o fazer artístico infantil e arte contemporânea. Incita-nos a questionar: como na arte contemporânea os processos criativos no ser criança e no ser artista adulto podem se aproximar? Se no adulto há um esforçar-se diante da criação, na criança é quando encontra liberdade, constitui fonte de experimentação do mundo. Bem sabemos a criação é inerente à dimensão humana, mas bem sabemos também que com o tempo há saberes inúmeros outros que se sobressaem ao saber estético e poético, e a escola tem sua responsabilidade nisso. Rompendo com esse ciclo, ao longo de todo o texto, encontramos importantes pistas ao professor para que ele descubra, em seu trabalho, formas de possibilitar à criança oportunidades para a recriação do mundo em suas múltiplas linguagens.
Como que numa sinergia com o capítulo que o antecede, Fabiana Prado, no capítulo 3, escreve sobre os processos criativos na infância no seu diálogo com a arte contemporânea. A grande contribuição, dentre as muitas que o texto oferece, é o que o que a autora refere como investigações poéticas, procedimento artístico pedagógico favorecido pela cartografia, conceito desenvolvido e ilustrado a partir de experiências com e das crianças.
Selma Botton, no capítulo 3, propõe um olhar à natureza e às crianças, dando visibilidade ao anseio que os pequenos têm em conhecer o seu entorno. A autora conversa sobre os lugares, os detalhes, os pequenos universos adensando a nossa percepção com a ilustração de botânicos, a proposta de exploração sensorial do meio ambiente e o registro visual de biomas.
Da música cotidiana até o despertar dos sentidos, Renato Tocantins Sampaio, em seu capítulo 4, considera que há uma musicalidade infantil diferente da musicalidade do adulto, assim como uma música infantil que se diferencia da música dos adultos em estrutura e função, portanto defende uma proposta de “música com as crianças”. Descobrindo o lugar da música nas instituições de Educação Infantil e escolas, propõe um repertório musical vasto que familiarize auditivamente com diversos tipos de estruturação musical, integrando todas as experiências musicais: ouvir (apreciação), tocar e compor música.
Em O corpo e o movimento na educação infantil: problematizações e desafios, capítulo final,Maria Cecilia Sanches discute o pensamento dos educadores a respeito do corpo e movimento na escola, a formação do repertório e as ações educativas considerando e potencializando os recursos gestuais das crianças, a cultura patrimonial do grupo e o conhecimento da cultura local.
O título do livro é inspirado na metáfora proposta por Paul Ricoeur clareira luminosa e remete à imaginação criadora, espaço onde decido, onde “eu posso” (1989, p. 227). A clareira luminosa é onde “brincamos”, onde a imaginação trabalha (1994, p. 33). Para o autor “não há ação sem imaginação” (p. 223), toda ação depende da imaginação, e lança o ser para um mundo novo.
Finalizamos esta apresentação com o desejo de que os textos constituam oportunidade de Encontro tal como fora o EIIA para todos(as) que se aventuraram nesta experiência: equipe e professores-cursistas.
E, para definir tal palavra aqui grafada com inicial em maiúscula, nos valemos de Brandão (2009). Encontro é um espaço de desenvolvimento da pessoa, por meio do qual ela se sente acolhida e impelida a descobrir e realizar o que lhe é próprio. O ‘tu’ constitui uma oportunidade e um apelo único para que o ‘eu’ descubra a amplitude e a profundidade do chamado que traz consigo: o chamado a ser si mesmo, a responder em primeira pessoa ao outro, ao mundo. É nesse aparente paradoxo, da saída de si (para o “tu”) e na descoberta, na expressão da própria individualidade, que a pessoa se constitui.
Um bom Encontro, para todos, na leitura do livro Clareira luminosa: arte, curiosidade e imaginação na infância!