Medicina, saúde pública e a invenção do território
No Brasil, não temos um só “sertão”. Em verdade, são muitos os sertões brasileiros. Aqui, temos os sertões paulistas como centro de um debate que envolve não apenas o território, mas uma forma de pensá-lo, pelo viés da saúde.
A invenção do território paulista, com a tomada de suas terras ainda consideradas desconhecidas, teve a participação efetiva de uma elite médica e de saúde pública que se institucionalizava na virada do século XIX para o XX. Os estudos elencados na obra Os Sertões Paulistas tentam se aproximar de tais contextos, trazendo reflexões acerca da história da saúde pública e os males que afligiram a população, contribuindo para o alargamento das interpretações em torno da noção de território e paulistanismo, aqui em conexão com a medicina, a saúde pública e as artes de curar.
O tema dos sertões no Brasil vem sendo objeto de análise de diversas áreas do conhecimento, e em diversos momentos. No entanto, foi por influência da tese de Nísia Trindade Lima, Um Sertão Chamado Brasil: Intelectuais e Representação Geográfica da Identidade Nacional, que se iniciaram mais intensamente os estudos que passaram a vincular os chamados sertões brasileiros e os órgãos médicos e de saúde pública, abrindo espaço para estudos convergentes e influenciando várias gerações até os dias atuais.
Da ida aos interiores do Brasil ou da identificação desse sertão ali, do outro lado da avenida, inaugurava-se sob a bandeira do saneamento algo bastante novo entre os estudiosos, que não só capturavam as relações entre rural e urbano ou entre o que consideravam selvagem e civilizado, mas abriram espaço para se identificar e representar este lugar chamado “sertão”.
Sobre o organizador: André Mota é historiador e professor de Medicina Preventiva na FMUSP e coordenador do Museu Histórico da mesma instituição. Seus estudos estão voltados ao tema da História das Práticas e de Saúde, com ênfase em suas particularidades regionais paulistas.