Em O Oito, Paloma escreve uma coisa que salta aos olhos. Ela diz que há “algo entre o prazer do segredo e o perigo da confissão”. Em seu romance, o contexto desta frase é outro, mas vejo nela uma maneira muito precisa e, portanto, inescapável de tratar da sua literatura. A todo momento, Paloma parece se desnudar por meio da palavra ao mesmo tempo que um véu cobre o seu texto, nos deixando sempre diante dessa linha tênue entre o que pode ser ou não ficção. Ficamos à deriva, mas sem querer sair desse mar.
Quem conhece – mesmo que pouco – a biografia da autora identifica semelhanças entre a sua vida e os causos e personagens que ela faz questão de narrar. Paloma sempre cria cenários que são próximos a ela e descreve gentes que poderiam ser seus amigos, mãe, pai e irmã. Inclusive, não é raro haver um entrecruzar de suas obras. Diversos detalhes que aparecem em O Oito já haviam dado as caras nos contos e crônicas de Eu preferia ter perdido um olho (Alameda, 2017), reforçando ainda mais essa leitura de que a sua literatura, se não mergulha, ao menos margeia a autoficção.
Ao escrever sobre sua Belém, Paloma o faz de maneira tão íntima que é capaz de fazer com o que o leitor se sinta parte da cidade, como se também tivesse crescido por lá, ido embora e retornado tantas vezes. E essa familiaridade só é possível porque Paloma consegue nos colocar dentro de seu texto. Parece que conhecemos suas ruas, seus bares, a esquina da Dezesseis com a barraca do coco, o José, a Joana, a Pantera, a F, e que sabemos quem são vermelhos e quem são amarelos. Paloma abriu o seu quintal para o mundo.
Paloma Franca Amorim é uma escritora voraz e insaciável. Ela se alimenta da memória e se alimentada vida. E mesmo que ela venha a ter muito de ambas, jamais será o bastante. Urge em seu texto uma vontade por mais e mais. Ela quer chegar ao âmago e, portanto, continuará mergulhando cada vez mais fundo em seus sentimentos, se cercando de gentes e lugares que ela pode ou gostaria de poder tocar. Afinal, não podemos esquecer: Paloma é carnívora.
Arman Neto
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Sobre a autora: Paloma Franca Amorim é licenciada em Artes Cênicas pela USP. Publicou o livro Eu Preferia Ter Perdido Um Olho (Alameda, 2017). Além de escritora, é pesquisadora de artes da cena, educadora e artista visual.