Trabalho, pobreza, escravidão e emancipação no cotidiano de São Paulo (século XIX)
Nesse livro, tão impecável em sua escrita sensível quanto academicamente irretocável, a historiadora seleciona novas questões para um material antigo ou, então, mais conhecido.
De olho na “menoridade civil”, ela destrói (pre)conceitos arraigados, mas que ainda continuam ecoando no presente, como a tese que apresenta mães negras “desnaturadas”, com seus filhos abandonados, soltos na vagabundagem. Explorando documentos variados, a autora analisa as condições de vida de menores na capital paulistana oitocentista, chegando ao contexto da emancipação e do pós-abolição.
O livro é devastador. Na primeira parte mostra a realidade dessas mães empobrecidas, e em geral solteiras, que, quando comparadas aos modelos de famílias estruturadas e burguesas, apareciam definidas como “inadaptadas” quando não “degeneradas”. Na segunda, apresenta seus rebentos, não raro entregues aos “cuidados” de terceiros e submetidos a regimes de trabalho pesados.
Lá estão as figuras das molecas, que aparecem nas fotos ao lado de seus patrões, com seus cabelos desgrenhados e as roupas sujas e rotas de tanta labuta. Lá estão também as imagens dos meninos de recado, ainda descalços a despeito do final da escravidão. Nessas horas, infância não é marcador social de geração, mas antes de classe: do mundo do trabalho que nessa época não tinha idade ou carteira de identidade.
Lilia Moritz Schwarcz
Professora (USP/Princeton)
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Sobre a autora: Marília Bueno de Araújo Ariza é doutora em História Social pela FFLCH – USP. É autora de O ofício da liberdade: trabalhadores libertandos em São Paulo e Campinas (1830-1888), publicado pela Alameda em 2014.